27/04/2010


Voltando para casa. 5:00 28/04.Dia péssimo. Avião ganhando força.Lagrimas caindo. Seu rosto na minha memória,a sua alegria em ver o tango,sua careta para o gosto do pomello,sua cordialidade com as velhinhas que passam nas ruas, seu fascínio com a salada de frutas argentina e as medialunas.

Tudo escuro,me dei conta de que as luzes estão apagadas,o avião continua a se mover parece que perdeu a força... já não tem importância. Lembranças me envolvem.

- A decolagem foi autorizada - avisa o piloto. Casaco, cabelo e folha molhados pelas lagrimas. Queria ter podido te ver mais uma vez. Avião correndo. Muito!

Lagrimas cessam, tensão no ar.Meu coração voa na frente.Sai do solo. Deixo para trás minha casa e vôo de encontro a meu lar.Nunca imaginei que pudesse chorar tanto. Dou graças a Deus pelas luzes apagadas ,pela poltrona ao lado vazia e pelo sono do inocente senhor da janela que nada tem a ver com a minha angustia. Meu paraíso geometricamente calculado fica menor. Minha cabeça gira e o sono não vem. E eu desejo com toda a minha força que ele viesse ou que ele não fosse. Seu gênio forte,meu temperamento infantil... tudo vai ficar muito vazio sem você. A casa me parece exagerada, você vai fazer falta. Oh Vozinho!

O seu rosto na tela do meu PC, me dizendo o quanto parecia bem que estava com saudades e logo voltaria para me ver.Tempo injusto.

24 horas e eu teria chegado.

A aeromoça me pergunta se sou brasileira, a essa altura o que importa?

O cara que julgo ser o piloto já fez suas apresentações. Percebi que as luzes voltaram. Minha cabeça continua a doer.

2 horas pela frente....infinitos minutos que brincam de deslizar em câmera lenta no tempo. O piloto se manifesta de novo,da informações irrelevantes e projeta minha chegada para as 7:15.

A aeromoça me oferece bala. Ironia. Sabe qual a marca? Aquela que o vozinho sempre trazia nos bolsos. Lagrimas.

Percebo que talvez não consiga dar conta de fazer uma biografia fúnebre para ele. Luzes apagadas.

-Saco,vamos decide se ascende ou apaga?!- Ânimos alterados. Me pergunto o que mas de conhecidencias poderia ter hoje.

Lembro de sua modinha:”amigooo....” Sua voz rouca tentando canta la. Me dei conta de que estou sentada na mesma poltrona que ele se sentara em nossa ultima viagem.Corredor.

Vontade de abraçar o Barry, mas a vontade é bem menor que o desejo de permanecer inerte. Os únicos que agora trabalham cérebro,coração e mão.Não necessariamente nessa ordem. Lembrei que o Claudio foi um amor essa noite, lembrar de ser gentil na volta. Voltar. Eu tenho que voltar. É eu voltarei... Saudade do colo materno,do beijo paterno e das briguinhas com a Sis. Família. A minha ta menor agora. No fundo nunca deixou de ser. E isso dói. As luzes voltaram.

Começa o serviço de bordo. Cheirinho de café.Só ele fazia café em casa. Dói saber que a rotina cambiara. Lembrando de como minha mãe trazia a voz suave e leve aquela noite. Tento toma la como exemplo. Mais lagrimas.

Me dei conta que ao entrar recebi um pacote com um kit para descanso. Descansar. Quem consegue? O senhor ao meu lado tenta. Cabeça vazia.Alivio.Respirar fundo.

Serviço de bordo se aproximando. Pausa na escrita. Crepúsculo Lindo, de tirar o ar. Agora entende por que todos lugares na janela estavam ocupados. Lanche: tostado de queso e jamon, coca salada de fruta do vozinho e uma broa com manteiga. Ai meu Pai que horas será agora? Será que estou longe o bastante para estar perto o suficiente?

Raios de sol na janela, a perfeição Divina. Deus sabe realmente o que faz.

Nada é maior que o desejo de estar em casa. Pequenas turbulências.O argentino da frente pergunta:¿Molesto ahi? Por ter abaixado a poltrona. “não meu filho, quem dera se meus problemas se resumissem em um inclinar de poltrona.” Perdendo altitude.Chegamos em São Paulo- acaba de anunciar o piloto. Tempo encoberto. Turbulências mil, tentando refazer a biografia fúnebre.Sinto me um pouco mais forte.

- Esse negocio vai cair meu Deus.

Pra não dizer que não escrevi nada, fiz algumas linhas.

- Esse avião nunca desce?

Sensação de estar voando em círculos.Impotência,imobilidade.Quisera eu ter asas.A arte da espera não é uma habilidade que por hora possuo.Turbulência. Eu tinha muitas expectativas para o meu primeiro vôo sozinha mas nenhuma chegou perto do que realmente esta sendo. Apesar de tudo agora percebo o quão rápido passou essas 2 horas,mas porque se esticam os minutos finais?

Inclinação para esquerda.horizontalizou.

-Tripulação, preparar para o pouso.

Demorou. Chegando.

Provavelmente não poderei escrever. Então finalizo dizendo como é bom estar em casa, e o quanto vou sentir sua falta.

Enfim, em solos brasileiros.

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